terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O fim do sexo


A reprodução sexuada começou por acaso através dos micróbios há cerca de 1,6 bilhões de anos, numa era conhecida como Mesoproterozóico. Essa forma de reprodução foi vantajosa para as espécies porque aumentava a variabilidade genética e, consequentemente, a chance de sobrevivência. Isso explica porque grande parte dos animais usa esse modo de reprodução, uma vez que a seleção natural tratou de descartar as formas de reprodução geneticamente desvantajosas.

Apesar do sexo ter contribuído abundantemente para a grande variedade de espécies que existem hoje, chegamos num estágio da história da vida no planeta onde os próprios seres vivos podem manipular a forma com que se reproduzem. A espécie humana, através dos avanços da ciência, foi capaz de entender como a reprodução funciona e, assim, desenvolver tecnologia para manipulá-la de acordo com as suas necessidades. Foi assim que surgiu a fertilização in vitro, a clonagem e os métodos anticoncepcionais. Dessa maneira, a nossa espécie conseguiu dar um passo inédito na história da evolução da vida. Nunca antes a reprodução ocorrera de uma forma artificial.

Reprodução in vitro
Engenharia Genética
Esse cenário nos leva a crer que, num futuro próximo, a reprodução humana pode ocorrer quase que exclusivamente através de métodos artificiais. Isso por uma razão muito simples, porque apesar da reprodução sexuada ser aquela que teve mais sucesso no último bilhão de anos, ela também tem os seus problemas. As anomalias congênitas, fetos mal formados e natimortos são muito comuns em seres sexuados. Esses defeitos genéticos poderiam ser eliminados em sua maioria se a reprodução artificial excluísse os genes defeituosos. Além disso, existe também um outro fator chamado manipulação genética. Creio que futuramente será possível identificar a predisposição genética para algumas doenças e associá-las a genes específicos, genes esses que podem ser excluídos pela reprodução artificial. Imagine que os biólogos encontrem os genes que provocam o câncer de esôfago, por exemplo. Ao identificar esse gene defeituoso, os cientistas podem eliminá-lo e substituí-lo por um gene saudável. Dessa maneira, teríamos bebês saudáveis e com longa expectativa de vida.

A manipulação genética pode muito mais do que se imagina a princípio, pois ela pode gerar seres humanos com os melhores genes e com imunidade natural a quase todo tipo de doença. Genes ligados à diabetes, obesidade, hipertensão e outros problemas de saúde podem ser eliminados da carga genética humana.

Embora a reprodução em laboratório traga praticamente o fim de certas doenças e de algumas limitações físicas (como o ácido lático nos músculos), ainda teremos que lidar com um problema fundamental: o que faremos com o desejo sexual se a reprodução humana passar a ser artificial?

E o sexo, onde fica?


Para que vai servir a libido, então?
A maioria das pessoas possivelmente não aceitará viver a vida inteira em regime de castidade total, uma vez que o impulso sexual é natural e poderoso na maioria das pessoas. A solução para isso talvez esteja na imposição ou obrigatoriedade do uso de métodos anticoncepcionais em larga escala. Talvez, uma solução mais radical seja uma castração em massa, onde desde criança as pessoas sejam impedidas de se reproduzirem naturalmente. Ou ainda, quem sabe, a própria seleção natural trate de excluir as pessoas que tenham nascido por métodos naturais - já que elas seriam geneticamente mais vulneráveis que as pessoas que tiveram os seus genes escolhidos a dedo num laboratório.
Creio que as pessoas ainda usarão o sexo por muito tempo para se reproduzir, uma vez que ele é mais barato e prazeroso. Porém, a longo prazo, a tendência é que o sexo seja algo que exista apenas para fins recreativos. Pense bem: por que razão que as pessoas correrão o risco de ter um filho defeituoso de forma tradicional, se elas poderão ter um filho perfeito artificialmente?

Foi o sexo que nos tornou mortais

A extinção da sexualidade humana
Eu pretendo ir além com o fim do sexo. Imagine daqui a milhares, ou talvez milhões de anos no futuro. Será que seria vantajoso para os descendentes da espécie humana manterem-se como seres sexuados? Eu acredito que se os nossos descendentes forem espertos, possivelmente irão acabar de uma vez por todas com o sexo. Isso pode parecer absurdo, mas pense bem: que vantagens uma mulher teria em menstruar, sofrer com cólicas e ter TPM? Que vantagens há em manter um instinto que impulsiona as pessoas a cometerem crimes sexuais, que ajuda a disseminar as DSTs e que gera crianças indesejadas entregues ao abandono? Por essas e outras, não vejo motivos racionais para que o sexo continue existindo num futuro distante. Quanto ao prazer sexual, talvez uma droga possa gerar sensações parecidas com a de um orgasmo; ou talvez alguém invente um supercomputador que crie uma realidade paralela na nossa mente, onde possamos ter sensações sexuais diversas; ou quem sabe até as pessoas encontrem outras formas de prazer mais intensas e que sejam muito mais interessantes que o sexo.

Porém a razão principal para por um fim no sexo é a questão da imortalidade. Se ninguém morresse, não haveria mais a necessidade da reprodução para manter a espécie viva. Dessa forma, os seres humanos poderiam viver por milhões ou mesmo por bilhões de anos. Num mundo de imortais, não é necessário nascer um número de indivíduos maior que aquele que o meio possa suportar, isso para não gerar desabastecimento ou esgotamento dos recursos naturais por causa de uma superpopulação de indivíduos imortais. Dessa forma, o máximo que poderia continuar existindo seria a clonagem e o desenvolvimento de fetos em úteros artificiais.
Se encontrarmos um meio de não morrer, o sexo simplesmente tornar-se-á inútil. Basta ver que os seres assexuados são imortais, porque eles apenas se dividem, podendo continuar a existir indefinidamente. Sei que isso pode parecer contraditório, mas foi o sexo que destruiu a nossa chance de sermos imortais.

Se fosse apostar, eu diria que o sexo está com os dias contados para espécie humana - isso numa perspectiva otimista, claro.

Ligações externas:
Evolução do sexo e sobrevivência
Era mesoproterozóica
Parasitas, evolução e sexo

3 comentários:

  1. Rsss...
    Fiquei interessada nesse medicamento que poderá reproduzir as sensações do sexo.. Limpo, rápido, seguro, sem precisar de satisfações a ninguém..., e sem DR!!!! Que conforto! rss

    Você é ótimo!

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    1. Rarará! O felizardo que criar a pílula do orgasmo vai ficar mais rico que o Tio Patinhas! rss) Já existem estudos nessa área com camundongos que sentem um superorgasmo apenas com estímulos em áreas específicas do cérebro. Seria uma verdadeira revolução na sexualidade humana se isso virasse moda.

      Brigadim pelo elogio e um abração.

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  2. muito interessante e bem explicado
    Mas e a masturbação?continuaria existindo?

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