sexta-feira, 26 de julho de 2013

Igualdade racial ainda que tardia


Apesar de vivermos num dos países mais miscigenados do globo terrestre, o racismo ainda é um dos maiores cânceres sociais que existem no Brasil. Como se não bastasse a exclusão intelectual e econômica de pessoas que possuem a pele escura, ainda temos que lidar com um sistema que insiste em colocar os "negros" num patamar inferior aos "brancos" em todos os outros aspectos sociais. Note que as palavras "brancos" e "negros" estão entre aspas justamente porque essa diferenciação é imposta pela nossa cultura de raízes coloniais. Hoje somos todos mestiços. Na verdade, todos os seres humanos têm a mesma origem evolutiva, que é africana: por isso somos biologicamente indistintos, mesmo com tonalidades de epiderme diferentes. Então, como já dizia o cantor Gabriel o pensador em sua canção Lavagem Cerebral:

"Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor
Uns com a pele clara outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura"

Sendo assim, considero ser de uma burrice descomunal querer separar as pessoas por "cor" em um país onde a maioria esmagadora da população é geneticamente mestiça.


A origem do racismo
Não é novidade para ninguém que a maioria das pessoas mais pobres no Brasil se declara como sendo "negra" ou "mulata". Isso é explicado pelo fato do trabalho escravo no Brasil ter sido majoritariamente de origem africana. Com a assinatura da Lei Áurea, tivemos então uma migração dos ex-escravos que saíram das senzalas para irem morar em cortiços e favelas. O fim da escravidão trouxe, na verdade, uma espécie de 'liberdade ilusória' onde a maioria dos "negros" acabou ficando à margem da sociedade e tendo que trabalhar muito para ganhar quase nada. O que vemos hoje é apenas uma retroalimentação disso – fato que explica porque o embate "pobreza versus riqueza" se confunde tanto com "negros versus brancos". A desigualdade social entra neste contexto como um dos maiores agravantes do racismo, porque temos uma elite de maioria "branca" explorando uma classe dominada de maioria "negra". E num sistema manipulado por uma elite praticamente "monocromática", só podemos ter ainda mais preconceitos e discriminações raciais.


O apartheid brasileiro
De uns tempos para cá, eu tenho escutado por aí com certa frequência a expressão "afro-coitadismo" da boca grupos reacionários ou de extrema direita. A desculpa para esse termo é que os "negros" já possuem direitos iguais aos dos brancos, logo, qualquer movimento negro briga apenas por "privilégios". É extremamente ingênuo pensar assim, porque a "igualdade" que temos só está no papel e tão somente no papel. A prova disso é que vivemos numa sociedade onde a maioria dos políticos são brancos, a maioria dos empresários são brancos, a maioria das megacorporações são dirigidas por brancos, a maioria dos oficias das Forças Armadas são brancos, a maioria dos líderes religiosos são brancos... Enfim, vivemos numa sociedade onde os homens "brancos" é que detém o poder, as regras e os privilégios. Isso pode parecer uma bobagem, mas o que impede a real igualdade entre "brancos" e "negros" na nossa sociedade é justamente essa mentalidade equivocada de que tudo já está "igual" entre as pessoas de cor de pele diferentes. Será mesmo que há igualdade racial em uma sociedade que insiste em negar o racismo que ela mesma cultiva?


O racismo invisível
Eu vou deixar a seguir alguns exemplos de condutas racistas que muitas vezes passam despercebidas e que as pessoas normalmente fingem não existir. Coloque-se no lugar de uma pessoa que sofre discriminação e tente imaginar como é duro...

- Ser parado numa blitz apenas por sua cor de pele.
- Ver as pessoas mudarem de calçada ao andarem na rua por receio de cruzarem com alguém da sua cor de pele.
- Ter a porta giratória do banco travada por desconfiarem da sua cor de pele.
- Ver que as telenovelas e filmes quase sempre retratam as pessoas da sua cor como sendo subalternas ou bandidas.
- Saber que o padrão de beleza predominante trata as suas características físicas como sendo feias (quem nunca ouviu expressões como "cabelo ruim", por exemplo, para  referir-se a cabelos crespos?).
- Aprender que o nome dado à sua cor de pele também é usado como um sinônimo para coisas negativas ou ruins (ex: lado negro, peste negra, dia negro).
- Ter que assistir a comerciais e propagandas que quase sempre usam atores de cor de pele diferente da sua para vender os seus produtos (quantas propagandas de creme dental, por exemplo, usam atores negros?)
- Ser minoria no poder, na política, nas Forças Armadas...
- Ser perseguido por grupos neonazistas.
- Ter a sua cor de pele associada a um insulto.
- Ter menos chances de emprego que uma pessoa de outra cor.
- Ser suspeito de crimes apenas pela sua cor de pele.
- Ser confundido com bandidos só por causa da sua cor.
- Ter pouquíssimos heróis no cinema e na literatura com a sua cor.
- Ser vítima constante de piadas e estereótipos racistas.
- Ver pessoas sentirem medo de sentar do seu lado em coletivos apenas pela sua cor.
- Ter que tolerar a existência de elevadores para negros e para brancos.
- Ser acusado de ser "menos inteligente" pelo fato de pessoas com a sua cor de pele terem "inventado" e "descoberto" menos coisas.
- Ter a sua religião hostilizada por ela ser "coisa do demônio" ou "macumba".
- Etc, etc, etc...


É por tudo isso que a luta por igualdade racial no Brasil não pode ser tratada com desdém. Sem igualdade, nunca haverá justiça.
A luta continua.

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