segunda-feira, 21 de abril de 2014

Críticas ao feminismo - complemento


No penúltimo post a este, onde eu critiquei o feminismo pragmático, algumas argumentações talvez não tenham ficado claras – além de terem faltado algumas outras. Por esta razão, vou fazer alguns esclarecimentos rápidos para que não haja nenhum mal entendido.

Violência doméstica
A violência contra a mulher é um dos maiores cânceres sociais da humanidade. A quantidade de mulheres que são assassinadas, violentadas e espancadas por seus (ex)companheiros é assustadora. E a impunidade é extremamente alta para esses crimes. Eu, como pacifista, abomino inteiramente a violência contra a mulher. Inclusive, acho a Lei Maria da Penha muito branda, pois ela não é suficientemente rigorosa para se coibir eficientemente essa violência. Posto isso, o que tentei colocar na postagem anterior foi que a violência contra a mulher não é a única forma de violência doméstica que existe. O que devemos fazer é lutar contra toda e qualquer forma de violência, seja contra mulheres, homens, crianças, idosos ou adultos. A violência não merece nenhuma chance, porque ela não tem justificativa. Defender apenas um lado, ainda que ele seja o mais atingido pela violência, é extremamente parcial e injusto. A vida de uma mulher não deveria valer mais que a vida de um homem. Por isso, eu defendo também o fim da violência doméstica contra os "opressores" homens.

Feminismo e religião
Algo interessante que notei é que apesar de feminismo e religião serem quase como água e óleo, existe, para minha surpresa, um ponto de intersecção entre ambos. Este ponto de intersecção está justamente na área que abrange a sexualidade. Enquanto a religião, por exemplo, condena a prostituição, pornografia e a objetificação por considerá-las "imorais"; as feministas abolicionistas, por sua vez, condenam essas mesmas coisas por acharem que é uma "exploração da mulher". Os discursos são diferentes, mas o resultado é o mesmo: controle. O problema aqui é que ou o feminismo acaba se aliando às religiões (sobretudo à direita cristã) neste sentido, ou então acaba se comportando como se também fosse uma religião. Enfim, não vou repetir tudo o que escrevi neste post. O único ponto que eu me incomodo aqui é que a ideia de vigiar e proibir certas coisas nunca me pareceu algo muito revolucionário, porque acaba servindo para limitar a liberdade individual das mulheres pessoas e também a liberdade de expressão.

Sobre a prostituição
Acabar com a prostituição é uma utopia feminista/religiosa. Isso ocorre porque o sexo para o homem possui uma conotação diferente do que é para a maioria das mulheres. Sexo não é tão fácil de se conseguir quanto parece para a maioria dos homens heterossexuais, afinal, são os homens que precisam fazer toda a dança do acasalamento social para tentar seduzir uma mulher de seu interesse – e isso toma tempo e dinheiro (além de incluir riscos, como o de rejeição, por exemplo). Além disso, não são todos os homens que têm talento, tempo, paciência e coragem para tentar seduzir mulheres em um ritual de conquista que pode levar semanas ou meses antes de levá-la para cama. Se não fosse pela prostituição, muitos homens jamais teriam chance alguma de transar. Por isso que a prostituição prospera: porque existe a possibilidade de ter sexo fácil, rápido, de qualidade, sem burocracia e sem maiores conversas a um preço acessível para qualquer homem. É muito fácil para os românticos pensar que sexo deveria ser sempre de graça, sendo uma mera troca de prazeres – mas não é assim que o mundo funciona. Mesmo que as mulheres não fossem reprimidas sexualmente, mesmo que todos os homens fossem lindos e mesmo que a população feminina fosse dez vezes maior que a masculina, ainda assim, a prostituição existiria e prosperaria. Como disse certa vez o Dr. Asmodeu em seu blog: nenhum moralista vai admitir isso: mas falta sexo no mundo. E sexo não é brincadeira: é uma necessidade fisiológica.
O grande problema da prostituição, na minha opinião, é a exploração das garotas por cafetões. Mas neste caso não é necessário proibir a prostituição como um todo, basta uma regulamentação forte que criminalize os modelos ilegais de prostituição. Criminalizar toda forma de prostituição não daria certo, pois haveria um enorme mercado negro para isso.

Objetificação
Tratar um ser humano como objeto, propriedade ou mercadoria é crime, ponto. Tráfico humano, sequestro, cárcere privado, trabalho escravo, abuso sexual, assédio, invasão de privacidade, atentado ao pudor: alguém duvida que essas coisas sejam erradas? Ser um "objeto decorativo" hipersexualizado num programa de tevê pode até ser uma forma de objetificação sexual – mas não é crime justamente porque a pessoa objetificada consente nisso e também porque não há a ideia de posse ou propriedade. Se a mulher quer virar um enfeite televisivo para trazer mais audiência a um programa, isso é um direito de escolha dela. Aliás, ser panicat é mais difícil (e mais rentável) que passar em medicina na Fuvest. Se você não quer ser uma mulher-objeto, faça outra coisa na vida: estude, trabalhe e faça qualquer outra coisa menos balançar a bunda na tevê. E tem outra coisa: a gente precisa parar de achar que as mulheres são sempre vítimas da sociedade machista e patriarcal. As mulheres – assim como os homens – são elementos ativos na nossa sociedade. Ninguém é forçado a trabalhar num comercial de cerveja que mostra mulheres sendo tratadas como "gostosas". Acho a crítica válida, mas é preciso respeitar a mulher (ou o homem) que quiser ganhar dinheiro com seus atributos físicos.

Iuzomismo
Este ponto talvez não tenha ficado claro no post anterior, mas o que tentei afirmar foi que, infelizmente, muitas feministas ridicularizam o sofrimento masculino gerado pelo próprio sexismo. Ao invés de mostrarem aos homens que o culpado pelo sofrimento deles é o machismo, inventam termos infantis para menosprezá-los, como "iuzomismo", "mimimi do opressor", "male tears", etc. E os homens transexuais? Será que alguém ainda acha que a nossa identidade de gênero é definida pelos nossos órgãos sexuais? Será que os homens trans também devem ter seus sofrimentos ridicularizados por eles serem homens? E será que também já não basta o machismo ter reprimido por tanto tempo o direito dos homens chorarem?

Padrão de beleza
Muita mulher por aí reclama que os homens não notam as mulheres feias, gordas e velhas – como se homens gordos, pobres e feios também não sofressem mais dificuldade para ter uma parceira que um cara mais atraente. Aprendam uma coisa: atração sexual não é caridade: é instinto. E sim: a nossa biologia conspira para que busquemos parceiros com mais beleza e que sejam mais saudáveis. Ter maior beleza significa ter maior chance de procriar e de ter filhos que também terão mais chances de procriação por serem belos. A seleção natural fez com que as pessoas que se sentiam atraídas pelos padrões de beleza vigente tivessem mais descendentes. E todos nós somos descendentes dessas pessoas. Claro que cada pessoa tem o seu próprio degradê de beleza que vai do muito feio ao muito bonito. E pelo fato desses degradês serem diferentes de pessoa para pessoa que vemos gente com menos poder de atração se dando bem com o gênero que a atrai. Afinal, o que é bonito para mim pode ser feio para você e vice-versa. Mas o que prevalece para a maioria das pessoas é o modelo de beleza padrão, por isso ele é tão requisitado.
O problema todo é que muita mulher reclama que o padrão de beleza é cruel e tal e que elas querem ser notadas. E quando finalmente são notadas, acham que é objetificação. Aí também já é de lascar.

Sobre a cor do Kinder Ovo
Concordo que normatizar se um brinquedo é para meninas ou para meninos é uma forma de impor padrões de gênero. Acontece que a maioria da população brasileira ainda não acordou para esse fato. Na maioria das famílias, meninas continuam brincando com "brinquedos de meninas" e meninos continuam brincando com "brinquedos para meninos". Se a empresa que fabrica o Kinder Ovo fugir dessa sua linha tradicional, corre o risco de ser rejeitada pelo consumidor. Afinal, seria frustrante abrir um Kinder Ovo e vir um brinquedo que você não gosta. A razão para vir com cores diferentes é apenas para diferenciar o brinde. Enfim, se não gosta do Kinder Ovo, não compre: simples assim. Compra o Kinder Ovo quem quer. Se acha a marca sexista, porque não opta pela concorrente ou não pressiona para a marca fabricar um que tenha um brinde "neutro" (unissex)?
PS: Descobri que o Kinder Ovo tem uma versão neutra, que são os Natoons.

Para terminar, aquela frase no final do post passado não traduz a minha forma de pensar: ela foi apenas um exemplo de que existem várias formas de se enxergar o feminismo. Se não me engano, a frase foi proferida pela blogueira Karen Straughan em um de seus vídeos no Youtube. A frase ficou apenas como uma reflexão para entenderem que tudo pode (e deve) ser criticado, inclusive feminismo.

E se você acha que eu estou tratando com desdém a luta feminista por igualdade, então por favor, esqueça tudo que eu falei e faça o que achar melhor. Não estou aqui para dizer a ninguém o que fazer, estou apenas expressando a minha opinião. Se não gostou, dê a sua também.

Namastê!

5 comentários:

  1. Na verdade, uma das maiores pautas do feminismo é o direito à prostituição. Se o corpo é da mulher e ela tem o direito de fazer o que quiser com ele, isso inclui se prostituir. Obviamente, isso se refere apenas aos casos de prostituição por opção.

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    1. Ah, se todas as feministas pensassem como vc! Mas a realidade é que as radicais, sejam elas radfems ou feministas moralistas, são terminantemente contra a prostituição e a pornografia. Pra vc ter uma ideia, já li comentários no Facebook de radfems que sugeriram leis que PROIBISSEM as mulheres de se prostituírem ou de fazer filme pornô com a desculpa de proteger as mulheres da exploração e da objetificação sexual. Infelizmente, esse feminismo pós moderno pegou tudo que tinha de mais reacionário na segunda onda feminista e focou suas pautas neles.

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    2. Uma das pautas do feminismo é eliminar a prostituição, como é difícil pq até as prostitutas são contra isso, elas fazem força para criminalizar o homem pagar a mulher por sexo como aconteceu na frança

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    3. Depende, mateus. Há feministas que não têm nada contra a prostituição. Quem se posiciona contra a prostituição (e a pornografia por tabela) são as feministas abolicionistas e as radicais. Essas são capazes até de se juntar com grupos religiosos mais conservadores para combater o que elas não gostam.

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  2. Muito bom o post. Parabens ao autor foi racional e falou a verdade

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