segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Religião e política: uma mistura muito perigosa


As eleições se encerram e agora, finalmente, posso voltar a falar sobre política. Para os curiosos de plantão que não entenderam esse meu silêncio sobre o tema, eu evitei falar sobre política durante o período eleitoral para não servir de "má influência" para ninguém. Não vou comentar o resultado das eleições neste post, vou apenas fazer uma reflexão sobre a grande quantidade de pastores e bispos que se elegeram mais uma vez para o poder legislativo e como isso é perigoso para o país.

Ameaça ao Estado Laico
No estado onde eu moro, os dois deputados estaduais mais votados foram um pastor e um presbítero, e pelo menos mais uns cinco deputados eleitos também eram ligados diretamente a alguma igreja. Ser um deputado religioso não é um problema, mas ser um líder religioso travestido de deputado é, sim, um enorme problema. Essa turma da bancada evangélica não conhece (ou finge não conhecer) o Estado Laico e, frequentemente, cria leis absurdas e barra projetos de leis importantes baseada "na Bíblia". Mas a culpa em si nem é tanto dessa bancada religiosa, porque o erro começa bem antes deles legislarem "em nome de Jesus". A culpa maior é de quem coloca esses fundamentalistas lá: o povo ignorante. Infelizmente, a maioria da população sofreu uma forte lavagem cerebral através de doutrinas religiosas que se julgam soberanas e detentoras da verdade absoluta. E isso ocorreu de modo que qualquer ideia que vá contra os preceitos religiosos estabelecidos acaba sendo considerada má ou demoníaca pelo povão. É triste ver isso acontecer, porque direitos e liberdades que são individuais acabam sendo cerceados por uma pequena parcela de parlamentares fanáticos. Misturar religião com política é sempre desastroso.


Vendo os números para presidente da república, nós temos uma visão mais ampla sobre isso. Os dois candidatos que defendiam liberdades individuais (união homoafetiva, estado laico e descriminalização do aborto e das drogas) receberam menos de 2% dos votos. Isso mostra que o povo brasileiro, de um modo geral, é muito conservador e influenciado por antigos preceitos religiosos. E como a religião não ensina a contestar (muito pelo contrário, condena esse pensamento), então entramos num ciclo vicioso onde as liberdades individuais e os direitos das minorias nunca são aprovados. Se não houver uma ruptura nesse tipo de tradição política, estaremos caminhando a passos largos a favor de uma teocracia.




Apesar de na internet o número de ateus e agnósticos ser bastante alto, a grande massa (principalmente os mais pobres e, consequentemente, mais religiosos) é bastante religiosa e não possui qualquer conhecimento sobre estado laico e direitos de minorias. O povão é facilmente conduzido por seus líderes religiosos por não possuir consciência política, por ter baixo senso crítico e por ser despolitizado. A maioria da população sequer sabe o que um deputado faz e elege sem culpa um fundamentalista para o cargo, achando que está, dessa maneira, fazendo o melhor para país - mas infelizmente está fazendo justamente o oposto. O problema não está em escolher um religioso ou um pastor em si, mas no fato de que, na maioria das vezes, eles recebem uma alta votação apenas por serem pastores. O que ocorre na prática é uma espécie de voto de cabresto onde há uma indicação por parte dos próprios pastores para que seus próprios fiéis votem neles mesmos. E é aí que mora o perigo: pois depois de arrancarem dinheiro dos fiéis, agora querem arrancar dinheiro do país. Fora o risco de serem fundamentalistas.

Irreligiosos são minoria

Por que é tão difícil separar religião e política?
A religião cristã está tão fortemente enraizada na nossa cultura, que qualquer coisa que viole os seus dogmas é considerado errado pela maioria da população, mesmo que esse algo "errado" não viole nada na constituição. E é aí que está o problema, porque a sociedade passa a ser legislada pelas leis cristãs. Um Estado que deveria ser laico acaba então se tornando um escravo dos dogmas cristãos. Infelizmente, os políticos, para se elegerem, precisam sempre estar de acordo com o que pensa a massa cristã, do contrário, jamais se elegeriam. E isso gera um ciclo vicioso que não tem como ser quebrado enquanto a população não parar de sofrer lavagem cerebral e não entender o que é um Estado Laico.
Existem outros aspectos intrínsecos que fortalecem a religião e que contribui muito para que ela continue a ditar indefinidamente as nossas regras sociais e políticas, que são: 

1-Controle sobre a vida e a morte
O medo do desconhecido e a esperança de haver outra vida faz as pessoas se apegarem cada vez mais à religião.

2-Fator hereditário
Além de passar de pai para filho, já que os filhos quase sempre copiam a religião dos pais, a religião também depende do local de nascença de cada pessoa. Uma pessoa dificilmente seria católica na China ou hinduísta no Brasil.

3-Monopólio das virtudes
Altruísmo, amor, esperança, caridade, solidariedade, benevolência e humildade são aspectos positivos presentes em todas as religiões com conteúdo ético. Isso por si só é algo muito bom, porém essas qualidades não são exclusivas da religião. O grande problema é que a religião se utiliza do monopólio dessas virtudes para manter o seu poder. Ninguém precisa ser religioso para se bom: pena que a maioria das pessoas religiosas não consegue entender isso.

4-Condições sociais
Países mais pobres tendem a ser mais religiosos. Note que os países escandinavos, por exemplo, têm um índice de descrença religiosa muito elevada. Enquanto o país não tiver altos índices de educação e baixos índices de pobreza, a religião vai continuar escravizando ideologicamente as pessoas mais necessitadas e que só têm como esperança de vida melhor as próprias promessas da sua religião.

A verdade é que enquanto o Brasil continuar sendo um país repleto de desigualdades e com uma educação ruim, a chance de nos tornarmos uma teocracia sempre estará presente.

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