quarta-feira, 27 de maio de 2015

Reflexões sobre deus e as religiões

Eis o tipo de deus que eu não acredito

Não me lembro há quanto tempo faz exatamente que escutei um padre dizer em sua pregação dominical que os pais "não deveriam tolerar a rebeldia dos seus filhos". Até aí tudo bem, se não fosse pelo argumento que se sucedeu a esta afirmação, que foi para que "os pais impusessem à força o catolicismo para seus filhos". Sim, o padre (que é um padre bem conhecido, diga-se de passagem) disse que os pais tinham que se utilizar da autoridade e da força para fazer com que seus filhos fossem católicos. É por isso que eu acho que a religião não merece nenhum crédito, porque ela se vale sempre da força, da lavagem cerebral e do medo para persuadir as pessoas - especialmente as mais incautas. Enquanto a ciência nos convida para descobrir e explorar a natureza - a religião nos ameaça e se utiliza da autoridade para nos convencer de suas crendices.

É nisso que dá doutrinar um ateu

Meu ponto de vista sobre Deus
Eu não acredito no sobrenatural, acredito apenas no natural. Eu sou ateu se o conceito de deus for sobrenatural, ou seja: se ele estiver fora da realidade tangível e do alcance do método científico. Mas se o conceito de deus for natural, ou seja: que esse deus faz parte da realidade objetiva e material, então esse deus para mim pode ser real. Por isso que - dependendo do tipo de deus que esteja em questão - eu posso ser ateu ou não. Especificamente falando, eu sou um 'ateu romântico', porque eu enxergo deus nas forças da natureza, na elegância matemática do cosmo e nas leis da física. Deus, para mim, é a energia que permeia todas as coisas do universo. Neste aspecto, eu sou mais panteísta que ateu. Mas se o conceito de deus for de um velho de pele branca sentado num trono em cima das nuvens e que fica julgando a vida das pessoas aqui na Terra, então esse deus para mim simplesmente não existe.

Tolerância nunca foi o forte das religiões

Meu ponto de vista sobre a religião
Eu sei que pode parecer contraditório, mas todas as religiões estão certas e todas as religiões estão erradas ao mesmo tempo, dependendo do ponto de vista. Se olharmos unicamente do ponto de vista de cada sociedade e cultura isoladamente, desconsiderando outras religiões, todas elas estão corretas. Agora do ponto de vista global, sob uma ótica mais abrangente, todas estão erradas, porque todas elas possuem pontos que se contradizem entre si. O único ponto onde todas as religiões estão certas no contexto geral é justamente naquela intersecção de aspectos em comum onde todas as religiões com conteúdo ético concordam entre si, ou seja: valorizar aspectos como o amor ao próximo, a solidariedade, o altruísmo, a caridade, o perdão e a benevolência. Atualmente, eu não sou mais uma pessoa religiosa, mas todos os aspectos que julguei serem positivos no cristianismo (sim, já fui católico), eu levarei para sempre comigo por toda a vida. Não é porque eu não acredito no deus bíblico que eu vou deixar de amar o próximo ou de fazer exames de consciência antes de dormir, por exemplo. Eu não faço orações, eu faço uma meditação para refletir melhor sobre o meu comportamento e evitar cometer os mesmos erros no futuro, desenvolvendo em mim autocrítica, autocontrole e autoconhecimento. Não vejo a necessidade de uma religião na minha vida para que eu faça coisas boas.

É bem por aí

Os altos e baixos da religião
A religião muitas vezes me parece uma espécie de pacote, ou um kit completo de autoajuda, onde o fiel concorda em seguir um conjunto padrão de conceitos, crenças e rituais em troca de conforto espiritual (ou psicológico e emocional). As religiões muitas vezes se parecem com uma panaceia que serve para acalmar angústias, medos, dúvidas e dores. Mas como todo remédio tem seus efeitos colaterais, a religião vem com elementos perigosos, como a teofilia, a negação da individualidade ideológica, a culpa, as crendices, o medo por entidades e castigos sobrenaturais e uma série de outras coisas negativas.
Esse deus pessoal que é cultuado pela maioria das religiões atuais serve, no meu ponto de vista, como um amigo imaginário dos adultos. Até aí tudo bem, se esse amigo não fosse tão rancoroso, vingativo, preconceituoso e intolerante como é o deus do antigo testamento, por exemplo.
Apesar de tudo isso, o que eu defendo é a convivência pacífica entre todas as religiões - coisa que é bem difícil pelo fato da maioria das religiões serem muito fechadas e preconceituosas com as crenças diferentes. Mas eu prefiro isso do que a tentativa de abolir todas as religiões, o que para mim é uma loucura e uma covardia. Se for para abolir algo, que venham abolir os aspectos ruins das religiões - e não a religião como um todo. Se as pessoas não quiserem mais ser religiosas, isso deve ser uma escolha delas - e não algo imposto a força. Do mesmo modo, eu também sou radicalmente contra a força e a ameça na imposição das crenças, porque as pessoas não vão seguir a religião por fé ou convicção espiritual - mas por medo. E levando em consideração os males que a religião fez e faz ao mundo, às vezes penso que não ter religião acaba sendo sempre o melhor remédio e a melhor escolha.


4 comentários:

  1. No sentido técnico, não se pode dizer se existe ou não, é uma hipótese intestável. Já, no sentido pessoal, eu creio que nunca saberemos de tudo, portanto, pode-se considerar algumas visões sobre o que seria essa força superior, natural e eternamente mutável que poderia ser chamada de Deus. Vejo-me como um agnóstico. Às vezes, dizem que eu quero criar um deus das lacunas, mas não, eu simplesmente não descarto determinadas ideias que fazem sentido para MIM pessoalmente (não é o caso dos deuses das religiões tradicionais). Não quero provar ou utilizar tais ideias de maneira rigidamente científica, somente medito sobre elas especulativamente, tentando sempre fazer a lógica prevalecer.
    De que maneira você reza?

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    1. Evidências pessoais (ou anedóticas) são provas de fé individuais - não há o que ser dito sobre elas e não há como serem testadas pela ciência. Isso vai de cada um. Mas para ciência (e para mim que tenho uma mente muito científica), essas evidências pessoais não provam coisa alguma. Apesar disso, eu sou agnóstico no que se diz respeito saber ou não da existência de deuses. Se alguém me perguntar se deuses existem, minha resposta é 'não sei' - logo sou agnóstico para essa questão. Mas se perguntarem se eu acredito em algum deus, minha resposta é 'não' - o que me torna ateu. Portanto, hoje eu sou ateu e agnóstico. Já fui deísta, panenteísta e simpatizei com o pandeísmo, mas essas crenças foram criadas, na verdade, em cima deuses inventados por mim mesmo fundamentados nas lacunas do conhecimento humano. Após raciocinar um pouco mais, acabei percebendo que esses conceitos de deus não passaram de uma desculpa que eu dava para mim mesmo para não me assumir ateu.

      Sobre minhas meditações, eu não faço reza alguma. Eu apenas converso comigo mesmo no pensamento e tento me lembrar das coisas que fiz durante o dia. Não há nada de especial. Apenas evito achar que existe alguém mais além de mim "lendo" os meus pensamentos.

      Obrigado por sua participação.
      Namastê!

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  2. A sua negação confirma a existência!
    Madre Teresa foi perguntada o que ela mudaria na igreja católica; ela respondeu “eu mudaria eu mesmo”.
    “A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar.”
    HELDER CAMARA

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    1. Na verdade, a minha negação não confirma a existência coisa alguma. Até porque se negação fosse prova da existência de algo, o Coelhinho da Páscoa existiria porque eu também o nego veementemente.
      Com relação a essa frase do Dom Helder Câmara, concordo perfeitamente - e grande parte dos ateus que eu conheço, também. Afinal, pensar é a melhor maneira de fugir das algemas da religião.

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