segunda-feira, 2 de abril de 2018

Ninguém é feliz


Muitas pessoas perguntam a minha opinião sobre o que eu acho da vida e se a vida é boa ou ruim. Eu obtive a resposta para essa questão ainda na adolescência. Porém, só agora depois de balzaquiano foi que encontrei as palavras certas para descrever o que eu já sabia. Muito bem, vamos lá.

Há quem diga por aí que a vida é como um copo preenchido pela metade: ele pode estar meio cheio ou meio vazio dependendo do ponto de vista. Ou seja: a vida pode ser boa ou ruim dependendo de como você enxerga as coisas. Mas eu discordo veementemente desse pensamento. Quem afirma isso é um covarde – um isentão – que esconde a verdade para parecer imparcial. Por outro lado, existem aqueles que afirmam que a vida é boa. Esses são mentirosos, canalhas ou possuem alguma deficiência intelectual gravíssima. Ninguém em sã consciência pode afirmar que a vida é "boa", porque isso se opõe a toda realidade que nos cerca. Tem também aqueles que dizem que a vida é ruim. As pessoas que dizem que a vida é ruim não estão erradas, mas também não estão certas. De fato a vida não é boa, mas entre o ruim e o terrivelmente insuportável existe um abismo de diferenças. E a vida é exatamente isso: ela é terrivelmente insuportável. A vida é uma sucessão de tragédias, de dores, de contrariedades, de violências, de mortes, de angústias, de derrotas, de frustrações, de amarguras, de tristezas, de injustiças, de covardias, de incertezas, de inseguranças, de medos e de desespero. O sofrimento é uma constante na vida humana. A gente pode até não se dar conta de tudo isso, mas se não fosse pelo calejamento que essas coisas todas nos provocaram cotidianamente desde o nosso nascimento, ninguém suportaria viver. Todos nós vivemos uma luta constante contra a finitude de tudo que nos cerca, contra a depressão, contra a tentação de desistir de tudo, contra o sofrimento e contra toda a crueldade embutida na realidade. Uma pessoa que diz que a vida é ruim, apesar de estar sendo honesta, está apenas sendo eufemistica.

A vida sem máscaras é muito pior

A vida é um permanente estado de anedonia com leves pitadas de delírios, de sonhos, de loucura, de catarse e de escapismo. Todos nós somos miseravelmente infelizes com algumas breves sensações de alguma coisa que nos faz esquecer, por poucos instantes, que somos infelizes. E é isso que alguns chamam de felicidade. A felicidade é tão e somente a ausência da infelicidade por breves momentos. E as pessoas buscam essa felicidade como uma espécie de droga que funciona semelhante a uma panaceia. É por isso que os remédios contra a dor, contra a ansiedade e contra a depressão vendem tanto. Ninguém aguenta essa vida sem algum tipo alívio. As pessoas procuram nas drogas, no sexo, na comida, no prazer, na religião, no engajamento social, no esporte, nos games, nos folhetins, na arte, nas endorfinas e na fuga total da realidade essa felicidade. E até a encontram, mas por um brevíssimo período de tempo: tão breve quanto a duração de uma explosão de supernova em comparação com a idade do universo. Isso é a felicidade: uma explosão de supernova num universo imenso tomado pelo frio, pela indiferença e pela escuridão.


Ninguém é feliz. O máximo que podemos conseguir é estar felizes. E a vida não é boa e nem ruim: a vida é uma tragédia grega sem script. A vida é a única medida que nós humanos temos para saber discernir o que nos faz feliz daquilo que nos faz infeliz.

Para encerrar este assunto, o segredo para amar a vida é aprender a lidar de forma saudável com as dores, com as frustrações e com o sofrimento. Isso exige sabedoria, maturidade, persistência e coragem. A vida, infelizmente, não nos oferece outra alternativa a não ser de sermos fortes. A forma como lidamos com a infelicidade e a forma como aproveitamos os breves momentos felizes é que vão nos dizer se a nossa vida vale ou não a pena ser vivida. Mas que ninguém se iluda: é impossível ser feliz.

4 comentários:

  1. Para ser feliz, precisa aceitar Jesus, eu já fui ateu até que abrir meus olhos, o mundo não tem nada a nós oferecer, ceda e dê uma chance a Deus, deixe ele entrar em sua vida.

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    1. Contra fatos, meu amigo, não há argumentos: ano após ano, as pesquisas reiteram que os países mais felizes do mundo são os nórdicos (Suécia, Finlândia, Noruega, Dinamarca), em que a maioria da população é ateia ou agnóstica. Quanto a Jesus, nesse exato momento lá na Turquia alguém disse que pra ser feliz tinha que se apegar a Maomé e, lá na China, aos ensinamentos budistas, de desapego pleno. Por que não pensa/estuda antes de falar abobrinhas baseadas em achismos?

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  2. Wellington, você está passando por uma fase depressiva? Pela primeira vez, discordo frontalmente de seu texto. A vida é melhor pra uns do que pra outros, pior pra Fulano, melhor pra Cicrana. A MINHA vida eu digo que é muito boa, tenho 99% de coisas felizes e apenas 1% de dissabores, então me vale muito a pena. Sou feliz ao comer um pastel com caldo de cana, vestir uma roupinha velha mas confortável e cheirosinha, beber um copo de água gelada aplacando aquele sede inquietante, poder ver, ouvir e ter minhas mãos e pés perfeitos, apreciar a beleza de um inocente gatinho escondido, ter dinheiro pra comer o que quero (sempre coisas triviais!), poder andar com minhas próprias pernas apreciando as novidades da paisagem/cidade, ter a possibilidade de ler seus textos diariamente, enfim, uma série de coisas! Mas acredito que você esteja passando por uma crise depressiva, e isso nos faz enxergar a vida com uma lente acizentada onde essas pequenas felicidadezinhas diárias perdem a graça.
    Reconheço, entretanto, que nem todos tem o privilégio de desfrutar das coisas que falei acima, por isso disse que a MINHA vida é boa (e olhe que eu já tentei até suicídio, ficando em coma uns dias, mas não abala a alta nota média de felicidade da minha vida).

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    1. Sim, de fato vivo um momento bastante turbulento na minha vida como um todo. Mas como disse no início deste texto, essa conclusão foi tirada há mais de 20 anos atrás, quando eu ainda era adolescente.
      De fato a vida é mesmo um fardo terrível para todos. Para alguns é pior do que para outros, mas a vida não tem sentido, não é justa e nem possui amparo metafísico.

      Mas confesso que admiro muito pessoas como você que conseguem ver o bom no ruim e que amam a vida acima de todas as adversidades

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